terça-feira, 6 de março de 2012

A microscopia no setor de Hematologia


A contagem eletrônica de células sanguíneas nos laboratórios clínicos é obtida em contadores hematológicos automatizados, que, quando bem calibrados e com o uso de reagentes de qualidade, fornecem resultados sensíveis, reprodutíveis e precisos. Sem o auxílio desses aparelhos, os laboratórios seriam incapazes de analisar eficientemente o grande volume de amostras que recebem diariamente. Existem no mercado, atualmente, aparelhos das mais diversas marcas, modelos e tecnologias, mas, basicamente, os contadores eletrônicos se diferenciam entre aqueles que têm dezoito parâmetros e os que possuem vinte e quatro parâmetros, sendo que esses últimos oferecem a contagem diferencial de leucócitos.

Nos laboratórios que utilizam equipamentos de dezoito parâmetros, o indicado é que a microscopia sempre seja realizada, independente dos resultados do hemograma do paciente. Já naqueles que utilizam equipamentos de vinte e quatro parâmetros, o exame ao microscópio é realizado em casos selecionados.  Cada laboratório possui seus próprios critérios para realização da microscopia, mas na maioria das vezes baseiam-se em idade do paciente (<5 anos e >75 anos), procedência (amostras vindas de hospitais, clínicas onco-hematológicas, UTI, etc), pedidos médicos específicos (pesquisa de linfócitos atípicos, esferócitos, monoteste, etc), alarmes nos resultados dos contadores eletrônicos (flags) e limites de referência dos parâmetros numéricos.

Embora isso facilite o trabalho dos profissionais envolvidos nas análises clínicas e considerando ser impossível a um laboratório, com um número considerável de amostras, verificar todas as lâminas, ainda não há uma máquina que substitua o olho humano e, por isso, existe um grande número de alterações que não são percebidas pelos equipamentos. Essas alterações nem sempre são de importância clínica para o paciente (por exemplo, a ovalocitose sem anemia e a Anemia de Pelger-Huët) e, além disso, a maioria das alterações costuma ser acompanhada de indicações numéricas que são critérios para microscopia. Ainda assim, os profissionais devem estar atentos, pois existem alguns dados perdidos que teriam grande importância se fossem notados:



NO ERITROGRAMA:

è Policromatocitose

Principalmente sem anemia: com hemoglobina próxima ao limite superior de normalidade, é sinal de anoxemia; próxima ao limite inferior sugere perda sanguínea recente.

è Poiquilocitose

è Poiquilócitos específicos

Esferocitose, mesmo sem anemia é um diagnóstico relevante, pois explica litíase, subicterícia, entre outros. A máquina pode notar os poiquilócitos pela elevação do CHCM. Leptocitose indica doença hepatobiliar.

è Inclusões (Jolly, pontilhado basófilo, etc)

Corpos de Howell-Jolly juntamente com acantocitose em pacientes não-esplectomizados, indicam doença inflamatória do trato digestivo.

è Eritroblastos <5%

è Hemácias em Rouleaux

Indicam eritrossedimentação elevada.



NO LEUCOGRAMA:

è Desvio a esquerda

Há flags em 80% dos casos com neutrofilia, mas em menos de 40% dos casos sem neutrofilia; a anomalia de Pelger-Huët nunca é notada.

è Granulações tóxicas e corpos de Döhle

è Plasmócitos

Juntamente com os linfócitos atípicos são fundamentais para diagnóstico de viroses.

è Linfócitos atípicos

Há flags em 80% dos casos com linfocitose, mas em menos de 30% dos casos sem linfocitose – muitos são identificados como monócitos.

è Linfócitos linfomatosos ou leucêmicos em pequeno número

Há flags somente quando mais de 5 – 10%

è Linfócitos com granulações ou vacuolização anormais.

è Hairy cells

Geralmente aparecem como monócitos.



NO PLAQUETOGRAMA:

è Agregação discreta

è Satelitismo plaquetário

Há trombocitopenia sem flag



Esses são apenas alguns exemplos e, desse modo, é possível verificar que o ganho na precisão numérica no hemograma veio acompanhada de certo retrocesso na citologia de casos pontuais. Assim, mesmo não sendo possível a realização e leitura de distensões em 100% das amostras, as técnicas manuais merecem atenção e devem ser realizadas ao menor sinal de irregularidades nos resultados fornecidas pelo aparelho, pois algumas alterações hematológicas só podem ser diferenciadas pela microscopia. Além disso, os critérios para leitura de lâminas devem ser muito bem pensados e avaliados, levando-se em conta o perfil dos pacientes atendidos pelo laboratório.



FONTES:

FAILACE, Rafael; PRANKE, Patricia. Avaliação dos critérios de liberação direta dos resultados de hemogramas através de contadores eletrônicos. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 26, n. 3, 2004.

FAILACE, Renato (org). Hemograma: manual de interpretação. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

SANTOS, Alessandra P. et al. Comparação entre diversos métodos de contagem diferencial de leucócitos em pacientes leucopênicos. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 31, n. 3, 2009 .

Um comentário:

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