Autores: Andressa Soares, Camila Justen, Camila Simon, Carla Pause, Daiane Uecker, Paula Perassolo, Tanara Martins, Tanise Lasch.
A Leucemia Mielóide Crônica (LMC), cuja incidência é de um a dois casos para cada 100 mil habitantes por ano, é uma doença mieloproliferativa crônica clonal, caracterizada por leucocitose com desvio à esquerda, esplenomegalia e pela presença do cromossomo Philadelphia (Ph). Esse cromossomo é resultante da translocação recíproca e equilibrada entre os braços longos dos cromossomos 9q34 e 22q11 gerando uma proteína híbrida denominada BCR-ABL, que possui atividade aumentada de tirosina quinase. Todos os pacientes com LMC possuem a proteína BCR-ABL e sua hiperatividade desencadeia liberação de efetores da proliferação celular e inibidores da apoptose, sendo sua atividade responsável pela oncogênese inicial da doença (BORTOLHEIRO & CHIATTONE, 2008).
Inicialmente,
a LMC apresenta uma fase crônica (FC), de duração variável, prosseguindo para
uma fase blástica (FB), que pode ou não ser precedida de uma fase acelerada
(FA). Cerca de 90% dos pacientes são diagnosticados na primeira fase, sendo que
de 20 a 45% desses indivíduos são assintomáticos. Na fase crônica, ocorre a
expansão clonal maciça das células mielóides e no exame clínico, a
esplenomegalia e os sintomas relacionados à anemia são o principal achado. Não
são raros os pacientes que apresentam sudorese e perda de peso. A febre não é
comum nessa fase, tampouco os sintomas relacionados à disfunção plaquetária. Na
análise do hemograma, há leucocitose, com desvio à esquerda e células
granulocíticas diferenciadas (VIANNA & ALMEIDA, 2006; BOLLMANN & DEL GIGLIO,
2011).
Uma
parcela dos indivíduos com LMC evolui para a fase acelerada, que caracteriza-se
por uma maior dificuldade de controle. Na FA há aumento ainda maior do baço e
das células imaturas (blastos), promielócitos e basófilos na medula óssea e/ou
sangue periférico. Ocorre, ainda, agravamento dos sintomas constitucionais,
esplenomegalia progressiva, refratariedade ao tratamento com progressiva leucocitose
e/ou trombocitose. Frequentemente os pacientes na FA apresentam anemia e
trombocitopenia (VIANNA & ALMEIDA, 2006).
A
terceira fase, chamada de fase blástica, assemelha-se a uma leucemia aguda, na
qual predomina o acúmulo progressivo de células imaturas (mieloblastos e
promielócitos) na medula óssea ou sangue periférico. Nessa fase, o diagnóstico
é estabelecido pela presença de um sarcoma granulocítico. A anemia se
intensifica e pode haver um quadro hemorrágico com gravidade variável, febre e
piora do estado clínico de modo geral. Em média, 30% dos pacientes desenvolvem
a crise blástica diretamente a partir da fase crônica (VIANNA & ALMEIDA,
2006).
A
fim de identificar precocemente os pacientes em fase crônica que pudessem ter
uma evolução desfavorável com terapia convencional, na década de 80 foram
desenvolvidos alguns sistemas baseados em escores, que permitem a classificação
desses pacientes em três grupos, em relação à sobrevida e de acordo com suas
características clínicas e laboratoriais. São verificados parâmetros como
idade, tamanho do baço, contagem de plaquetas, porcentagem de blastos,
eosinófilos e basófilos. A partir disso, os pacientes são classificados em
risco alto, risco intermediário e risco baixo, sendo atribuído uma estimativa
de sobrevida a cada um dos grupos (BOLLMANN & DEL GIGLIO, 2011).
Existem
leucemias Ph-negativas, que acometem eletivamente uma das linhagens
granulocíticas. Essas doenças são raras e podem, basicamente, ser classificadas
em: leucemia neutrofílica crônica e leucemia eosinofílica crônica. Na primeira,
o hemograma mostra leucocitose progressiva com presença escalonada da série
neutrofílica, há poucos promielócitos e blastos. Além disso, há anemia,
trombocitopenia e, ainda, esplenomegalia, principalmente em casos de longa
duração. É uma patologia que só ocorre em pacientes idosos, tendo como
alteração citogenética mais comum a trissomia 8 (FAILACE, 2009).
Já
a segunda, acomete adultos da terceira à sexta década de vida e, provavelmente
não constitui apenas uma única entidade mórbida, mais em diversas doenças que
tem como característica comum a proliferação eosinofílica clonal. O hemograma
mostra eosinofilia de 20.000 a 80.000/uL e há eosinófilos parcialmente
agranulados e vacuolizados, alguns com hipersegmentação nuclear. Há
esplenomegalia e sinais e sintomas de dano tecidual pelos eosinófilos. Já na
medula óssea, há hiperplasia mielóide, com óbvio predomínio de eosinófilos,
sendo que a presença de blastos relaciona-se com pior prognóstico. As
alterações citogenéticas usuais são a trissomia do 8 e translocações envolvendo
um oncogenes na região 5q31-35 (FAILACE, 2009).
Os
hemogramas abaixo são de pacientes com Leucemia Mielóide Crônica, publicados
por Failace (2009). Observe:
Hemograma
1:
LMC em fase inicial, de paciente ainda assintomático. Mostra apenas neutrofilia com desvio à esquerda e alguns mielócitos. Assemelha-se ao hemograma da gravidez ou do paciente em tratamento com corticoide.
LMC
com, aproximadamente, um ano de evolução clínica. Nessa fase, o hemograma já é
esclarecedor, mostrando anemia, trombocitose, grande leucocitose à custa de
toda série mielóide e basofilia. Esse paciente já deve possuir sinais da doença
crônica, como astenia, emagrecimento, anorexia e esplenomegalia.
Hemograma
3:
LMC
em surto blástico. Vê-se anemia refratária, trombocitopenia, grande basofilia e
número crescente de blastos. O hemograma assemelha-se ao de um paciente com
Leucemia Mielóide Aguda.
Lâmina: A Leucemia Mielóide Crônica se
caracteriza pela presença de células jovens no sangue periférico
(promielócitos, mielócitos, metamielócitos e bastonetes). É comum o desvio à
esquerda não escalonado.
Fonte: Acadêmia de Ciência e Tecnologia
Dicas:
è Presença
de alterações nas três séries (leucócitos / hemácias / plaquetas):
desconfie de alguma patologia medular.
è Presença
de células ainda diferenciadas: desconfie de um processo
crônico.
è Aumento
dos granulócitos, com presença de células imaturas granulocíticas:
problemas na classe mielóide.
FONTES:
BOLLMANN, Patrícia
Weinschenker; DEL GIGLIO, Auro. Leucemia Mielóide crônica: passado, presente,
futuro. Einstein, v. 9, n. 2, p. 236
– 243, 2011.
BORTOLHEIRO, Teresa
Cristina; CHIATTONE, Carlos S. Leucemia Mielóide Crônica: história natural e
classificação. Revista Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia, n. 30, supl. 1, p. 3 – 7, 2008.
FAILACE, Renato (org). Hemograma: manual de interpretação. 5
ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
VIANNA, Joice Cristina
Costa; ALMEIDA, Elan Cardozo Paes de. Leucemia Mielóide Crônica: tratamentos
empregados nas diferentes fases da doença. Saúde
& Ambiente em Revista, v. 1, n. 2, p. 60 – 69, 2006.
Acadêmica de Ciência e
Tecnologia. Atlas Hematológico.
Disponível em: http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/atlas-hemat-index.htm