sábado, 10 de março de 2012

Leucemia Mielóide Crônica

                            Autores: Andressa Soares, Camila Justen, Camila Simon, Carla Pause, Daiane Uecker, Paula Perassolo, Tanara Martins, Tanise Lasch.


A Leucemia Mielóide Crônica (LMC), cuja incidência é de um a dois casos para cada 100 mil habitantes por ano, é uma doença mieloproliferativa crônica clonal, caracterizada por leucocitose com desvio à esquerda, esplenomegalia e pela presença do cromossomo Philadelphia (Ph). Esse cromossomo é resultante da translocação recíproca e equilibrada entre os braços longos dos cromossomos 9q34 e 22q11 gerando uma proteína híbrida denominada BCR-ABL, que possui atividade aumentada de tirosina quinase. Todos os pacientes com LMC possuem a proteína BCR-ABL e sua hiperatividade desencadeia liberação de efetores da proliferação celular e inibidores da apoptose, sendo sua atividade responsável pela oncogênese inicial da doença (BORTOLHEIRO & CHIATTONE, 2008).

Inicialmente, a LMC apresenta uma fase crônica (FC), de duração variável, prosseguindo para uma fase blástica (FB), que pode ou não ser precedida de uma fase acelerada (FA). Cerca de 90% dos pacientes são diagnosticados na primeira fase, sendo que de 20 a 45% desses indivíduos são assintomáticos. Na fase crônica, ocorre a expansão clonal maciça das células mielóides e no exame clínico, a esplenomegalia e os sintomas relacionados à anemia são o principal achado. Não são raros os pacientes que apresentam sudorese e perda de peso. A febre não é comum nessa fase, tampouco os sintomas relacionados à disfunção plaquetária. Na análise do hemograma, há leucocitose, com desvio à esquerda e células granulocíticas diferenciadas (VIANNA & ALMEIDA, 2006; BOLLMANN & DEL GIGLIO, 2011).

Uma parcela dos indivíduos com LMC evolui para a fase acelerada, que caracteriza-se por uma maior dificuldade de controle. Na FA há aumento ainda maior do baço e das células imaturas (blastos), promielócitos e basófilos na medula óssea e/ou sangue periférico. Ocorre, ainda, agravamento dos sintomas constitucionais, esplenomegalia progressiva, refratariedade ao tratamento com progressiva leucocitose e/ou trombocitose. Frequentemente os pacientes na FA apresentam anemia e trombocitopenia (VIANNA & ALMEIDA, 2006).

A terceira fase, chamada de fase blástica, assemelha-se a uma leucemia aguda, na qual predomina o acúmulo progressivo de células imaturas (mieloblastos e promielócitos) na medula óssea ou sangue periférico. Nessa fase, o diagnóstico é estabelecido pela presença de um sarcoma granulocítico. A anemia se intensifica e pode haver um quadro hemorrágico com gravidade variável, febre e piora do estado clínico de modo geral. Em média, 30% dos pacientes desenvolvem a crise blástica diretamente a partir da fase crônica (VIANNA & ALMEIDA, 2006).

A fim de identificar precocemente os pacientes em fase crônica que pudessem ter uma evolução desfavorável com terapia convencional, na década de 80 foram desenvolvidos alguns sistemas baseados em escores, que permitem a classificação desses pacientes em três grupos, em relação à sobrevida e de acordo com suas características clínicas e laboratoriais. São verificados parâmetros como idade, tamanho do baço, contagem de plaquetas, porcentagem de blastos, eosinófilos e basófilos. A partir disso, os pacientes são classificados em risco alto, risco intermediário e risco baixo, sendo atribuído uma estimativa de sobrevida a cada um dos grupos (BOLLMANN & DEL GIGLIO, 2011).

Existem leucemias Ph-negativas, que acometem eletivamente uma das linhagens granulocíticas. Essas doenças são raras e podem, basicamente, ser classificadas em: leucemia neutrofílica crônica e leucemia eosinofílica crônica. Na primeira, o hemograma mostra leucocitose progressiva com presença escalonada da série neutrofílica, há poucos promielócitos e blastos. Além disso, há anemia, trombocitopenia e, ainda, esplenomegalia, principalmente em casos de longa duração. É uma patologia que só ocorre em pacientes idosos, tendo como alteração citogenética mais comum a trissomia 8 (FAILACE, 2009).

Já a segunda, acomete adultos da terceira à sexta década de vida e, provavelmente não constitui apenas uma única entidade mórbida, mais em diversas doenças que tem como característica comum a proliferação eosinofílica clonal. O hemograma mostra eosinofilia de 20.000 a 80.000/uL e há eosinófilos parcialmente agranulados e vacuolizados, alguns com hipersegmentação nuclear. Há esplenomegalia e sinais e sintomas de dano tecidual pelos eosinófilos. Já na medula óssea, há hiperplasia mielóide, com óbvio predomínio de eosinófilos, sendo que a presença de blastos relaciona-se com pior prognóstico. As alterações citogenéticas usuais são a trissomia do 8 e translocações envolvendo um oncogenes na região 5q31-35 (FAILACE, 2009).

Os hemogramas abaixo são de pacientes com Leucemia Mielóide Crônica, publicados por Failace (2009). Observe:
Hemograma 1:

Fonte: Failace, 2009. 

LMC em fase inicial, de paciente ainda assintomático. Mostra apenas neutrofilia com desvio à esquerda e alguns mielócitos. Assemelha-se ao hemograma da gravidez ou do paciente em tratamento com corticoide.

 Hemograma 2:
Fonte: Failace, 2009 

LMC com, aproximadamente, um ano de evolução clínica. Nessa fase, o hemograma já é esclarecedor, mostrando anemia, trombocitose, grande leucocitose à custa de toda série mielóide e basofilia. Esse paciente já deve possuir sinais da doença crônica, como astenia, emagrecimento, anorexia e esplenomegalia.
 
Hemograma 3:
Fonte: Failace, 2009.

LMC em surto blástico. Vê-se anemia refratária, trombocitopenia, grande basofilia e número crescente de blastos. O hemograma assemelha-se ao de um paciente com Leucemia Mielóide Aguda.

Lâmina: A Leucemia Mielóide Crônica se caracteriza pela presença de células jovens no sangue periférico (promielócitos, mielócitos, metamielócitos e bastonetes). É comum o desvio à esquerda não escalonado.

Fonte: Acadêmia de Ciência e Tecnologia



Dicas:
è Presença de alterações nas três séries (leucócitos / hemácias / plaquetas): desconfie de alguma patologia medular.
è Presença de células ainda diferenciadas: desconfie de um processo crônico.
è Aumento dos granulócitos, com presença de células imaturas granulocíticas: problemas na classe mielóide.

FONTES:
BOLLMANN, Patrícia Weinschenker; DEL GIGLIO, Auro. Leucemia Mielóide crônica: passado, presente, futuro. Einstein, v. 9, n. 2, p. 236 – 243, 2011.
BORTOLHEIRO, Teresa Cristina; CHIATTONE, Carlos S. Leucemia Mielóide Crônica: história natural e classificação. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, n. 30, supl. 1, p. 3 – 7, 2008.
FAILACE, Renato (org). Hemograma: manual de interpretação. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
VIANNA, Joice Cristina Costa; ALMEIDA, Elan Cardozo Paes de. Leucemia Mielóide Crônica: tratamentos empregados nas diferentes fases da doença. Saúde & Ambiente em Revista, v. 1, n. 2, p. 60 – 69, 2006.
Acadêmica de Ciência e Tecnologia. Atlas Hematológico. Disponível em: http://www.ciencianews.com.br/atlas-hemat/atlas-hemat-index.htm



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